domingo, abril 10

SIN CITY

Falar que Sin City (Robert Rodriguez/Frank Miller, EUA, 2005) é o filme do ano é um pouco exagerado. Primeiro. porque estamos em abril e o ano ainda vai ter muitos outros lançamentos de peso, como Batman Begins, King Kong e Guerra dos Mundos. Segundo porque, mesmo sendo um excelente filme, ainda ficou abaixo das minhas expectativas, que eram altíssimas. E terceiro, porque não é um filme. A Sin City do cinema está tão fiel à Sin City dos quadrinhos que parece que estamos lendo os gibis de Frank Miller. A técnica usada na filmagem, de usar cenários virtuais e desenhos do próprio Miller como fundo para os atores captados em green screen, além de estabelecer um novo paradigma na relação do cinema com o video digital, deixou o filme ainda mais fiel aos quadrinhos.

Sin City é, na verdade, uma reunião de três curtas e um bando de estrelas. A primeira história, O Assassino Amarelo, abre o filme, é interrompida no meio e volta no final, contando a história de Hartigan (Bruce Willis), um policial a beira da aposentadoria que salva Nancy Callahan, uma menininha de 12 anos das mãos de Rourk Jr. (Nick Stahl), um playboy estuprador. Hartigan é incriminado pela corrupção de Sin City e fica oito anos na cadeia, tempo em que fica se correspondendo com Nancy. Um dia, as cartas da menina param de chegar, e Hartigan sai da cadeia em busca de notícias da menina. Quando o policial a encontra, descobre que Nancy virou uma belíssima stripper (Jessica Alba) e que um misterioso e nojento assassino amarelo também está a procura da garota, usando Hartigan como isca.

A segunda história, A Cidade do Pecado, conta a saga de Marv (Mickey Rourke), um horroroso brutamontes em busca de vingança contra os assassinos de seu único amor, Goldie (Jamie King). Essa história introduz realmente o espectador no universo de corrupção e violência de Sin City, mostrando as prostitutas como heroínas perigosas e os governantes como os grandes responsáveis pelo caos da cidade. Destaque para, é claro, a genial interpretação de Mickey Rourke e para Elijah Wood, no papel de um assassino frio, letal e com um gosto culinário bizarro, em contraponto à sua fragilidade física.

A terceira e maior das histórias, A Grande Matança, fala da trégua entre a polícia e as prostitutas da Cidade Velha que é quebrada devido a confusão armada pelo policial corrupto e encrenqueiro Jackie Boy (Benicio Del Toro). Lideradas por Gail (Rosario Dawson) e ajudadas por Dwight (Clive Owen), as prostitutas se armam para a guerra que está a estourar. Nesta história há uma clara referência à outro clássico de Miller, Os 300 de Esparta, na tática usada pelas prostitutas para encurralar os policiais liderados por Manute (Michael Clarke Duncan). Outra peculiaridade de A Grande Matança é a participação de Quentin Tarantino na direção de uma das cenas, o diálogo de Jackie Boy e de Dwight dentro do carro. A melhor cena do filme inteiro!

Sin City ainda conta com as participações de Britanny Murphy, Alexis Biedel, Carla Gugino, Rutger Hauer, Devon Aoki, Josh Hartnett e Michael Madsen. Robert Rodriguez faz o seu melhor filme desde El Mariachi e chega ao auge da sua proposta de cinema digital. Ele deixa de ser apenas um paladino das novas tecnologias no cinema e se transforma num esteta, num artista de verdade. Mesmo não sendo o melhor filme de adaptação de quadrinhos já feito, pela excelência técnica, pela originalidade, pelas cenas de ação e pelas histórias em si, Sin City é um filme que merece muito ser um dos grandes sucessos de 2005.

Sin City
Rosario Dawson, Clive Owen, Mickey Rourke e Jamie King em Sin City

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