terça-feira, maio 1

FIGHT BAIRRISMO WITH BAIRRISMO

Raio-X
São Paulo x Grêmio

por Gustavo Poli - Globoesporte.com


São Paulo e Grêmio começam, amanhã, o único confronto brasileiro nas oitavas-de-final da Libertadores. Por isso, atendendo a uma sugestão do leitor Walter (sem sobrenome), vosso humilde servo tenta dissecar o clássico. Como a bola de cristal está sendo preparada física e psicologicamente para o Campeonato Brasileiro, ela será preservada, como um daqueles jogadores de vidro. O jogo promete, claro. O momento do Grêmio é melhor, mas o time do São Paulo tem mais talento. Vamos, então, ver o que cada time tem de melhor.

Goleiros
O argentino Saja é um ótimo goleiro. Alto, tem reflexos e elasticidade. Debaixo da trave é provavelmente melhor que Rogério. Mas anda numa certa maré de azar. Saídas em falso, gols no cantinho em chutes de longe... bolas defensáveis tÊm entrado mais do que o desejável no gol do Grêmio. Rogério Ceni, por outro lado, mantém sua média: é eficaz sem ser espetaculoso. Fez uma ótima e fundamental no fim da partida contra o Audax Italiano - uma defesa que garantiu a vaga tricolor nas oitavas-de-final. E ele ainda traz o elemento ofensivo nas bolas paradas.
Análise: Ligeira vantagem do São Paulo.

Começou bem... O Rogério Ceni é um goleiro que é endeusado por ser um grande cobrador de faltas. No gol... bem, os colorados que me respondam. Lembram do frangaço na final da Libertadores do ano passado? Nada mais que um goleiro comum. Já o Saja tem mostrado qualidades que ninguém imaginava. Até pode ter tomado gols estranhos nos últimos jogos, mas só são considerados falhas por sabermos do que ele é capaz.

Sistema defensivo

A marcação agressiva do campeão brasileiro costumava começar com os dois atacantes - Leandro e Aloísio. Aloísio prende os zagueiros e perturba. Mas ninguém é tão chato quanto Leandro - talvez o atacante com mais poder de marcação no futebol brasileiro atual. Com sua provável barração, o time ganha em qualidade - mas perde em marcação. E isso agrava a lacuna deixada pela saída de Mineiro. Souza marca, mas não tem a velocidade nem a noção de cobertura do antecessor. O mesmo vale para Richarlysson. E a qualidade individual da zaga são-paulina também não é a mesma. Miranda, André Dias e Alex Silva são bons jogadores, mas Lugano e Fabão fazem muita falta. Sem Mineiro, Josué fica sobrecarregado na marcação - até porque os dois laterais continuam sendo melhores atacando do que defendendo. E Hugo não preenche os espaços tão bem quanto Danilo - que Rogério Ceni, lembremos, disse certa vez ser "o jogador mais importante do São Paulo". E, como os três zagueiros são relativamente lentos, o time acaba vulnerável quando está em desvantagem. Apesar de ter tomado apenas 18 gols no ano, não é uma zaga totalmente segura.

A defesa do Grêmio é instável e tem sofrido muito com a bola aérea. A barração do argentino Schiavi melhorou um pouco a situação - e o time praticamente não deu chances de gol ao Cerro Porteño na semana passada. Mas, contra o Juventude, o time novamente tomou gol em escanteio. A marcação do time é aguerrida, busca atrair o adversário para sair em velocidade. E nisso Lucas, que é um bom ladrão de bola, faz muita falta. Edmílson e Sandro são volantes de contenção na acepção gremista da palavra - mas não chegam aos pés de um Goiano ou Dinho. E Diego Souza, muito talentoso e forte com a bola nos pés, não tem a mesma capacidade de marcação. Nas laterais, Patrício é vigor, Lúcio é velocidade. O primeiro marca bem melhor que o segundo.
Análise: Empate.

Antes da saída do Schiavi, qualquer zaga do mundo era melhor que a do Grêmio, mas agora com William jogando na sua posição e Teco gastando a bola, não dá pra dizer que a dupla de zaga do Grêmio é pior que Miranda e Alex Silva. Se contarmos o meio-campo, a questão é ainda mais simples: os 4 meio-campistas do Grêmio marcam e atacam com a mesma competência. Os do São Paulo só atacam e carimbam bola. Cobrem de mim: o jogo de amanhã vai se decidir no meio-campo, a favor do Grêmio.

Sistema ofensivo

A sorte do Grêmio na Libertadores depende de um nome: Amoroso. O talento do atacante é fundamental para suprir a carência imaginativa do tricolor gaúcho, que é um time que ataca muito e com força - mas com pouco talento. Carlos Eduardo é veloz, mas não tem grande habilidade. Tuta é fundamental, pois prende zagueiros, faz o pivô e continua sendo artilheiro - apesar de continuar perdendo um caminhão de gols. O desfalque de Lucas é sentidíssimo aqui, até porque Tcheco não está em grande fase. O melhor jogador de ataque do Grêmio - ou o mais criativo - vem sendo Diego Souza com suas jogadas individuais. Os laterais Patrício e Lúcio avançam muito - o primeiro é menos talentoso que o segundo, mas ironicamente mais produtivo. Lúcio não sabe explorar muito bem sua velocidade e, não raro, cruza mal.

O São Paulo aposta suas fichas ofensivas no talentosíssimo Dagoberto, que fará sua estréia nesta quarta-feira. Por mais que Leandro seja um azougue, Dagol talvez seja o melhor remédio para o ataque são-paulino. Ele se movimenta tanto quando Leandro, tem mais habilidade e finaliza melhor (tudo bem, finalizar melhor que o Leandro não é grande virtude). Aloísio é importante porque prende a bola e incomoda a zaga adversária durante 90 minutos. Hugo é bom jogador, mas não encontrou ainda o espaço ideal para jogar no São Paulo - tem feito menos gols e sido menos decisivo do que no Grêmio. Não tem, sobretudo, a consciência tática de Danilo. O entrosamento de Hugo e Jadílson não se aproxima, nem de longe, daquele entre Júnior e Danilon. Ainda assim, Jadílson é veloz e deve incomodar Patrício. Na direita, Ilsinho tem bola para ser o melhor lateral do país. E os volantes do time - Josué e Souza (ou Richarlysson) são extremamente perigosos com a bola - sabem se projetar e, no caso do segundo, bater de fora da área.
Análise: Vantagem do São Paulo.

O Dagoberto não joga há quantos anos? Dois, três? Quanto ao Aloísio, o Amoroso já deu a dica: é só não encostar nele que ele se perde, deixa ele vir de frente. Com toda aquela "habilidade", não dá nem pra saída. O meio-campo do São Paulo é plenamente marcável já que se sujeita a marcação do time adversário (vide semifinal paulista contra o São Caetano). O problema aqui é que o ataque do Grêmio também não tem rendido muito, apesar dos últimos resultados. Mas se o Tuta começar a acertar os 3 gols feitos que ele perde por partida amanhã, tem goleada à vista...

Jogo aéreo

As duas defesas são muito altas - mas o Grêmio estranhamente vem sofrendo mais com a bola aérea do que o São Paulo. O tricolor paulista tem Aloísio, que é bom cabeceador - e Alex Silva e Miranda, que são ótimos no ataque e na defesa pelo alto. O Grêmio tem o melhor cabeceador do confronto: Tuta - mas ele é apenas um. A diferença a favor do São Paulo dentro da área é anulada pelo talento na cobrança da falta. Souza bate bem na bola, mas não tem a precisão de Tcheco.
Análise: Empate.

Nesse caso, o Grêmio perde. A bola parada de escanteio tem sido um pesadelo. A esperança é que o Mano tenha resolvido isso depois do jogo de Caxias do Sul.

Faltas para o gol

A precisão de Tcheco, aqui, é superada pela inegável eficiência de Rogério Ceni - provavelmente o melhor cobrador de faltas do futebol brasileiro.
Análise:Vantagem do São Paulo.

Também concordo com o colunista nessa aí. O Grêmio não tem cobrador de faltas. E o Rogèrio, como eu disse antes, é um ótimo cobrador.

Técnicos
Os ex-vizinhos Mano Menezes e Muricy Ramalho têm feitos trabalhos excepcionais. Ambos, agora, tem a cruel missão de lidar com o sucesso. Ninguém esperava que o Grêmio chegasse à Libertadores como chegou. O São Paulo foi vice da competição do ano passado e ganhou o título brasileiro. As expectativas estratosféricas produzem cobrança. Depois da derrota para o Caxias por 3 a 0, Mano se transformou no mais burro dos treinadores. A virada espetacular na partida seguinte removeu suas orelhas e trouxe de volta o chapéu de gênio.

Muricy, consagrado e incensado no ano passado, recebe agora as vaias e ouve novamente os gritos de Burricy. A impaciência do torcedor é injusta, claro. O São Paulo perdeu mais talento do que o Grêmio (embora tenha roubado Hugo dos gaúchos) e não conseguiu encaixar tão bem sua equipe. Mas o Campeonato Paulista é certamente mais difícil - o que pesa na balança. O momento de Mano é melhor, até porque está na final do Gaúchão e tem a vantagem de jogar a segunda partida em casa. Mas seria uma ingenuidade atroz subestimar o São Paulo de Muricy.
Análise: Empate.

HAHAHAHAHAHA! Peraí, deixa eu respirar... HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAAH!!!! Mano e Muricy, iguais? HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

Banco

O Grêmio redescobriu Éverton e Bruno Telles. E ainda poderá ter Carlos Eduardo no banco, se Amoroso tomar sua vaga. Não é nada espetacular, mas já é mais do que parecia haver antes. O São Paulo tem mais opções. Leandro, Jorge Wagner, Marcel e Richarlysson poderiam ser titulares no time de Mano Menezes.
Análise: Vantagem do São Paulo.

E a coisa vai piorando... Quer dizer que o Grêmio é pior que meio time reserva do São Paulo? Que absurdo! Esses paulistas realmente não acompanham o futebol gaúcho. Tirando o J. Wagner, que pegaria apenas a lateral-esquerda no Grêmio, o resto seria banco também aqui. Ou que técnico trocaria Richarlysson por Tcheco e Leandro por Amoroso? Esse Marcel eu nem sei quem é. Só falta ser aquela naba que nós tivemos que aguentar aqui por dois anos. Aí é muita sacanagem...


Preparo físico

Por mais que o São Paulo tenha descansado durante uma semana... e o Grêmio venha jogando toda quarta e domingo... a diferença não é muito grande. Nem na questão do cansaço... nem na do ritmo de jogo.
Análise: Empate.

O dia que um time paulista tiver mais preparo que um time gaúcho eu mudo de nome pra Severina...

Clima

A pressão sobre o São Paulo é pesada. A eliminação no Paulista e o empate dramático contra o Audax Italiano deixaram o time com nervos à flor da pele. Por mais experiente e vencedor que seja a equipe, a partida no Morumbi é uma decisão com várias repercussões. O time não está acosumado a perder. O Grêmio, por sua vez, está no embalo. E tem o conforto de saber que, mesmo que sofra uma retumbante derrota no Morumbi, terá o Olímpico cheio no jogo da volta. A torcida acredita nas mais impossíveis missões - e não deixa de apoiar o time um instante. A virada contra o Caxias alimentou a fé do tricolor gaúcho.
Vantagem: Grêmio.

Outro tópico onde eu concordo com o colunista. O Grêmio vem mais que embalado pelos últimos jogos. E semana que vem, o Olímpico vai tremer, independente do resultado de amanhã.

Resumo da Ópera

O São Paulo tem mais talento. O Grêmio vem mostrando mais vontade e organização. Por mais que a análise acima pareça favorecer o tricolor paulista em quase todos os quesitos - ela é meramente técnica. Por isso o fator "clima" é tão importante. O combustível do Grêmio, de todo e qualquer Grêmio, é a empolgação. É um time capaz de vencer na raça, com menos talento do que o adversário. E terá a vantagem de fazer a segunda partida num Olímpico abarrotado. O São Paulo terá que empatar em vontade - e jogar bem, o que não vem fazendo. Por isso, sem bola de cristal disponível, a única opção possível é o ele - o sempre seguro, tucaníssimo e confortável muro.

Quer dizer que depois de dizer que o São Paulo é melhor que o Grêmio em quase todos os tópicos, o colunista fica em cima do muro? Ou ele tem que ter umas aulas de lógica argumentativa ou tem que ser MACHO pra assumir suas opiniões. Como esse não é nenhum dos meus casos, eu digo de cara que o Grêmio volta de São Paulo com um bom resultado e passa para a próxima fase. Isso porque é o São Paulo, nosso freguês de caderno cheio. Se fosse o Santos, meu otimismo não seria tão grande....

Escrito em 01/05/2007