quinta-feira, dezembro 28

BABEL

Tô com preguiça de escrever, mas não poderia deixar passar em branco um filme desses, que toca nossa alma tão profundamente. Um filme maravilhoso, uma demonstração ultra-realista do mundo de hoje, o melhor da "trilogia da dor" de Alejandro González Iñáritu e um candidato fortíssimo ao Oscar de 2007.

Segundo a teoria do caos, o bater de asas de uma borboleta no Japão pode causar catástrofes do outro lado do Oceano. O cineasta Alejandro González Iñáritu acredita plenamente neste pensamento. Na sua obra, um cachorro, um atropelamento ou um simples rifle podem desencadear uma série de eventos catastróficos. Babel (2006) chega para completar a trilogia iniciada há seis anos com Amores brutos (2000) e 21 gramas (2003). O título remete à Torre de Babel, uma referência bíblica à idéia de pessoas que falam línguas diferentes e não conseguem estabelecer comunicação entre si.

O roteirista Guillermo Arriaga, parceiro de Iñáritu também nos filmes anteriores, coloca a ação em quatro países diferentes (Marrocos, Estados Unidos, México e Japão) e, conseqüentemente, em quatro línguas distintas. O filme começa no deserto do Marrocos, onde um pai de família compra um rifle para proteger suas cabras dos chacais. Como trabalha fora, ele deixa a arma com seus dois filhos menores (os atores mirins estreantes Said Tarchani e Boubker Ait El Caid). Eles resolvem testar o limite de alcance do novo "brinquedo". O menor, que sabe atirar, mira em um ônibus que passa na distante estrada desértica. Nele estão viajando Susan (Cate Blanchett) e Richard (Brad Pitt). O tiro acerta a mulher na altura do ombro, provocando pânico dentro do ônibus.

Nos Estados Unidos, Amelia (Adriana Barraza), a babá que toma conta dos filhos de Richard, recebe um telefonema avisando que Susan está hospitalizada. Mexicana, Amelia mora ilegalmente nos Estados Unidos há 16 anos. Com medo de perder o casamento do seu filho, no México, ela resolve cruzar a fronteira levando as crianças com Santiago (Gael García Bernal), seu sobrinho.

Enquanto isso, a jovem surda-muda Chieko (Rinko Kikuchi) fica sabendo da tragédia que aconteceu na África através dos noticiários japoneses. Mas a sua ligação com os demais eventos só será mostrada com o desenrolar da trama.

Mais do que coincidências

Para alguns o filme pode parecer uma colcha de retalhos de impossíveis coincidências, com uma forte manipulação emocional. Mas isso não importa. O objetivo de Iñáritu é mostrar que neste mundo globalizado, as pessoas estão cada vez mais distantes. Falta uma verdadeira comunicação desprovida de preconceitos e desde o 11 de Setembro a paranóia se instaurou. Depois que Susan é atingida, os outros turistas do ônibus ficam desesperados, achando que estão na mira de um novo ataque terrorista. Os únicos sentimentos que a globalização parece ter propagado pelo mundo são a violência e o medo de se tornar mais uma vítima.

Para Iñáritu, a conseqüência disso tudo é o isolamento. Susan e Richard estão afastados um do outro. Eles não se perdoam por terem perdido um filho. Culpam um ao outro e a si mesmos. Amelia se isolou de sua família ao tentar uma vida melhor nos Estados Unidos. No Marrocos, é a falta de um adulto por perto que faz com que duas crianças utilizem uma arma de fogo como brinquedo.

E no Japão, onde existe uma enorme cobrança por sucesso, tudo o que se vê é a solidão. Yasujiro (o veterano e ótimo ator Koji Yokusho), o pai de Chieko, é um rico e bem sucedido empresário que na sua caminhada para o sucesso foi se isolando cada vez mais da família. As cenas mais marcantes e poéticas mostram Chieko dentro de uma discoteca barulhenta com luzes berrantes. Iñáritu alterna momentos de extremo silêncio com ensurdecedores silêncios, mostrando que mesmo em um lugar repleto de pessoas, a solidão pode ser a sua única companheira. Chega a provocar lágrimas.

Todos falam a língua do cinema

O elenco está soberbo. Iñáritu sabe tirar o melhor de seus intérpretes. Veteranos, estrelas e estreantes desenvolvem seus personagens com idênticas camadas de profundidade, mesmo tendo diferentes níveis de exposições na tela. É gratificante observar que os meninos no Marrocos conseguem interpretações tão apaixonantes quanto os consagrados Brad Pitt e Cate Blanchett. Vale destacar ainda os trabalhos de Adriana Barraza (que merecia uma indicação ao Oscar) e da estreante Rinko Kikuchi, que mesmo sem falar usa toda a sua expressão e linguagem corporal para demonstrar seus sentimentos.

Do ponto de vista técnico, Iñáritu se cercou do melhor e o resultado final é um arroubo visual e sonoro. Rodrigo Prieto faz um excelente trabalho de fotografia. Com extrema competência, ele consegue mesclar os diferentes cenários sem deixar o contraste de cores entre a moderna cidade de Tóquio, o deserto do Marrocos e a pobreza do México se sobressaírem uns sobre os outros. A música de Gustavo Santaolalla (ganhador do Oscar por O Segredo de Brokeback Mountain) completa as cenas, surgindo hipnoticamente após longos silêncios.

Todo esse trabalho de excelência levou Iñáritu a ser premiado no festival de Cannes deste ano como Melhor Diretor. Sua narrativa imagética corrobora as mensagens sobre a solidão e a falta de comunicação. Mesmo com celulares, internet e satélites ainda não conseguimos transpor barreiras culturais e lingüísticas. A câmera de Iñáritu registra cada um desses momentos de perto, colada nos personagens como se buscasse uma solução. É a linguagem cinematográfica em todo o seu esplendor.

Fonte: Omelete



Iñáritu e Brad Pitt no set de Babel.

quarta-feira, dezembro 27

ROCKY IS BACK, BACK AGAIN

"O mundo não é um mar de rosas. Na verdade é um lugar ruim e asqueroso. E não importa o quão durão você seja, você apanhará e ficará de joelhos e ficará ali se permitir. Nem eu, nem você, nem ninguém baterá tão forte quanto a vida. Não importa o quão forte possa bater, e sim o quanto pode aguentar os golpes e continuar em frente, o muito que pode aguentar e seguir adiante. Assim é a vida! Agora, se sabe o que vale,vá e mostre o seu valor. Mas deve ser capaz de receber os golpes, e não apontar o dedo e dizer o que é por culpa desse ou daquele. Os covardes fazem isso!"

Se existe um cara que pode falar isso com propriedade, esse cara se chama Sylvester Stallone. Mesmo criando um personagem que entrou para a história do cinema, Stallone foi ridicularizado durante toda a sua carreira. Foi chamado de tosco, ogro, sem talento. Com o passar dos anos, foi esquecido pelas novas gerações. Porém, tal como o seu alter-ego Rocky Balboa (Sylvester Stallone, EUA, 2006), Stallone acaba por calar a boca de todos seus detratores. Quando começaram a surgir as primeiras notícias sobre o 6° filme da franquia, as críticas e piadinhas vieram de todos os lados. Nada injustificável, diga-se de passagem. Tirando os dois primeiros filmes, as outras sequências não foram dignas de respeito. Porém, Stallone corajosamente botou a cara a bater. E fez um GRANDE filme! Toda a fórmula que deu certo no primeiro filme está lá: começa mostrando a dura vida do lutador, ele é desafiado, treina (com direito a corridinha na escadaria do Museu da Filadélfia ao som da indefectível trilha de Bill Conti) e termina com uma luta emocionante. Só que, em 1976, Stallone tinha 30 anos. Agora o desafio é maior, tanto para Rocky quanto para Stallone, um sexagenário. E ele, apesar de tudo, supera esse desafio se mostrando em grande forma, atuando como nunca, dirigindo com maestria e exibindo o mesmo shape de 30 anos atrás (claro que guardadas as devidas proporções e as aplicações de botox). Eu não sei se é pela simpatia - nem sempre assumida - que todos da minha geração temos por Rocky, mas é arrepiante ver um filme como esse, digno até de Oscar. Sério, acredite! Não é a toa que a estátua de Rocky voltou para a frente do Museu da Filadélfia.


Deja-vu

sexta-feira, dezembro 22

OS MELHORES DE 2006

Como não poderia deixar de ser, aí vai a minha lista dos melhores discos e filmes de 2006. O único critério usado foi o da honestidade: só entraram os discos que eu escutei e os filmes que eu vi. Por isso, não levem muito a sério, já que nesse ano a correria de campanha política e trabalho não me deram muito tempo livre.

DISCOS

1.Guillemots, Through The Window Pane: Eu demorei pra começar a gostar, mas quando deu o estalo, não parei por uns dois meses. Um disco que se redescobre a cada audição. Destaques: Trains to Brazil e Annie Let's Not Wait.

2.Muse, Black Holes And Revelations: Taco a taco com o Guillemots, foi a grande surpresa, já que eu não era muito chegado no som dos caras. Uma seleção do melhor do rock'n'roll dos últimos 20 anos num disco só, e tudo ao mesmo tempo. Destaques: Invincible e Starlight.

3.The Dears, Gang Of Losers: Um dos casos felizes em que a banda melhora no segundo disco. E tem a (talvez) melhor música do ano: You And I Are A Gang Of Losers. Destaques: a própria e Ballad Of Humankindness.

4.The Killers, Sam's Town: Teve muita gente que não gostou. Mas eu, um fã de carteirinha da banda, não me decepcionei nem um pouco. Sem dúvida, uma das maiores bandas do planeta. Destaques: Bones e For Reasons Unknown.

5.Snow Patrol, Eyes Open: Tem Chasing Cars. Merece estar nessa lista só por isso. Destaques: Chasing Cars e ... Chasing Cars.

6.Boy Kill Boy, Civilian: Pelo nomezinho parece ser mais uma daquelas bandinhas emo, mas o som dos caras é sensacional. Destaques: Showdown e On And On.

7.Raconteurs, Broken Boy Soldiers: Jack White e Brendan Benson tocando rock'n'roll de verdade (leia-se, acompanhados de um baixista e um baterista de verdade). Um upgrade do White Stripes. Destaques: Steady As She Goes e Broken Boy Soldier.

8.James Dean Bradfield, The Great Western: Dá pra dizer que é o novo do Manic Street Preachers. Chega, né? Destaques: Bad Boys And Painkillers e Run Romeo Run.

9.Paolo Nutini, These Streets: O mentiroso do ano: tem nome de italiano mas é escocês, tem voz de negro americano (Al Green), mas é um branquelo de 19 anos, parece pop mas é R&B da melhor qualidade. Destaques: Jenny Don't Be Hasty e Last Request.

10.Hope Of The States, Left: Indie rock com toques épicos. Emoção pura sem ser meloso. Destaques: The Good Fight e Left.

11.I'm From Barcelona, Let Me Introduce My Friends: A minha mulher gosta muito. Eu também. E quem escutar também vai gostar. E todos juntos iremos cantar. Destaques: We're From Barcelona e Treehouse.

12.TV On the Radio, Return To Cookie Mountain: Impressionante como um troço tão estranho pode ser tão bom e, ao mesmo tempo, pop. Destaques: Province e Playhouses.

13.The Feeling, Twelve Steps And Home: A típica banda que você vai ouvir primeiro e gostar, mas quando começar a tocar no radio, você vai odiar. Destaques: Strange e Blue Picadilly.

14.The Fratellis, Costello Music: Ueba! Rock com punch e senso de humor. Fazia tempo... Destaques: Henrietta e Creepin' Up The Backstairs.

15.Midlake, The Trials Of Van Occupanther: O disco perfeito para escutar sozinho com as luzes apagadas. Destaques: Roscoe e It Covers The Hillside.

FILMES

1.V de Vingança (V For Vendetta): Para os indignados com a política mundial, um manifesto da força do povo. Ou um novo 1984. Enfim, o melhor filme do ano.

2.Os Infiltrados (The Departed): Depois de tentar ser um diretor de épicos - e se dar muito mal -, Scorcese ressucita voltando às origens e acertando a mão. Filmão!

3.Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan: De se cagar de rir. Não, você não leu errado. Um filme tão politicamente incorreto não podia ser descrito de outra forma.

4.Boa Noite e Boa Sorte (Good Night And Good Luck): Putz, eu queria ser o George Clooney! A mulherada toda babando, uma grana furiosa no bolso e agora o cara ataca de diretor e se dá muito bem. Um baita filme, com estilo e consistência.

5.Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine): O engraçado nesse filme é que, mesmo tendo um elenco de primeira (Greg Kinnear, Toni Collette, Steve Carell), o personagem principal é uma Kombi caindo aos pedaços. De rir e chorar.

6.X-Men 3 - O Confronto Final (X-Men 3 - The Last Stand): Enquanto o Bryan Singer foi estragar o Superman, Brett Ratner assumiu a franquia e fez um filmão. A sequência do Magneto mudando a Golden Gate de lugar entrou pra história do cinema.

7.O Plano Perfeito (Inside Man): Nesse caso, a tradução em português não poderia ter sido mais perfeita. Spike Lee ensina como roubar um banco.

8.Johnny & June (Walk The Line): Joaquin Phoenix foi injustiçado pelo Oscar. Uma homenagem à altura de Johnny Cash.

9.A Marcha Dos Pinguins (March Of The Penguins): Se eu fosse mulher eu diria: "ah, que filminho fofo!!!". Mas a verdade é que eu chorei afu, mesmo sendo espada e matador...

10.Deu A Louca Na Chapeuzinho (Hoodwinked): Pegaram a história da Chapeuzinho Vermelho e perverteram de uma maneira inimaginável. A gente torce para o lobo!!!

11.Menina Má.com (Hard Candy): O título em português afugentou o público do cinema, mas é um grande suspense.

12.Scoop: Scarlett Johansson.

13.Stoned - A História Secreta Dos Rolling Stones (Stoned): Quem tem menos de 30 anos nem sonha quem é Brian Jones. Não sabe quem é o cara? Então não deixe de ver esse filme.

14.Obrigado Por Fumar (Thank You For Smoking): Canastrão até não poder mais! Uma paulada na publicidade e no cinema.

15.Tudo Pela Fama (American Dreamz): Canastrão até não poder mais! Uma paulada nos reality shows e no show business em geral.


Bônus I: A MUSA DE 2006

Bem que a Cicarelli tentou, mas a Karina Bacchi rapou as fichas no apagar das luzes de 2006. O piercing mais famoso do Brasil!!!


Por motivos de força maior, não vamos mostrar a Bacchi da Karina. Não insista!


Bônus II: O FATO DE 2006

Ok, eu vou ter que mencionar o título do Inter. Por mais que parecesse impossível, eles conseguiram. Como gremista só me resta dar os parabéns aos colorados por entrarem no seleto grupo dos campeões mundiais.
Ano que vem estaremos os dois na Libertadores. Vai ser de lascar...

sexta-feira, dezembro 15

PROMESSA

Estava lendo os arquivos do blog e vi que eu até tinha um certo talento. Mas hoje em dia as idéias não fluem tanto como antigamente. Talvez pela tranquilidade que tomou conta da minha vida (todo mundo sabe que a angústia é inspiradora), talvez pela auto-crítica exacerbada que me impede de dar uma de crítico, talvez pela preocupação de não ofender ninguém com o que eu possa escrever (já que sempre tem um umbigo de plantão que acha que é o homenageado do post), talvez por ter uma corretora ortográfica particular implacável que não aceita os meus erros de português... A verdade é que, pela enésima vez, passou pela minha cabeça encerrar os trabalhos blogueiros. Mas meu passado não permite que eu mate esse blog impunemente.

Por isso, anuncio aqui a minha volta.

Mas agora já é tarde e tenho que dormir. Talvez semana que vem. Ou mês que vem.

Prometo que, se demorar um ano, eu acabo de vez com essa bagaça.