quarta-feira, maio 4

A ASCENSÃO E A QUEDA DO MAL

A história sempre é contada pelo ponto de vista do historiador. No caso de uma guerra, a verdade é sempre contada pelo lado vencedor. Em se tratando da Segunda Guerra Mundial, a história que conhecemos faz com que tremamos ao simples mencionar do nome Hitler. As atrocidades cometidas pelos alemães denunciadas no julgamento de Nuremberg nunca serão esquecidas e sempre serão usadas como referência das maldades cometidas por seres humanos com os seus semelhantes. Porém, apesar da aura de anticristo, não podemos esquecer que Hitler era um ser humano de carne e osso. E, por mais monstruoso que tenha sido, não dá pra negar que em alguns momentos ele foi muito parecido com qualquer um de nós, com seus defeitos e suas qualidades. Os filmes Hitler - The Rise Of Evil e A Queda ajudam a mostrar quem era Adolf Hitler, o ser humano, nos dois momentos cruciais de sua vida e, por consequência, do entendimento da Segunda Guerra como um todo.

O primeiro - uma produção da CBS americana - mostra Hitler desde o seu nascimento até a ascensão ao cargo de chanceler alemão, passando por acontecimentos fundamentais na sua vida: os maus tratos sofridos pelo tio, a tentativa frustrada de se tornar artista plástico em Viena, a sua participação na Primeira Guerra, a formação do Partido Nacional-Socialista, a sua prisão e a sua volta ao cenário político alemão. O filme tem a clara intenção de retratar Hitler como um lunático, no que é extremamente competente principalmente na interpretação de Robert Carlyle. Porém, o mais interessante é a descrição detalhada das artimanhas políticas de Hitler que o fizeram tomar o poder na Alemanha sem nunca ter conseguido se eleger presidente. Hitler era um grande orador, apaixonado e convincente, que conseguia arrebanhar vários outros desiludidos da Alemanha destroçada do pós-guerra. Por isso, foi usado - e, algumas vezes, traído depois - por pessoas como escada para interesses próprios. O que aconteceu é que o seu poder de liderança acabou por extrapolar qualquer tipo de controle que havia sobre ele. Junte-se a isso a sua inteligência política, o seu ódio mortal pelos judeus e outras insanidades, temos a fórmula perfeita de um ditador sanguinário. O resto é história.

Já o segundo filme conta a queda do Terceiro Reich e o que se passou nos últimos doze dias de Hitler, quando os russos já estavam a ponto de tomar Berlim e o ditador estava escondido no seu bunker. Hitler, apesar dos constantes apelos de seus oficiais, recusava terminantemente a rendição, no que era seguido pelo seu fiel escudeiro Goebbels. Nesse filme, temos talvez o retrato mais coerente de Hitler, ao mostrar a sua face humana. Calma, o filme não mostra um Hitler bonzinho. Pelo contrário, ele mostra um homem vaidoso e radicalmente fiel aos seus princípios, a ponto de não mostrar nenhum remorso ao ver o povo alemão ser dizimado pelo simples fato de que julgava que cada alemão era um soldado disposto a morrer pela causa nazista, seja ele civil ou militar. Porém, A Queda também mostra uma imagem honrada e cordial do ditador, sempre amável com seus amigos mais fiéis, galante com as mulheres e sensível a ponto de sofrer com a morte de seu cachorro de estimação. Ao retratar essas duas faces de Hitler, A Queda atinge o seu ponto máximo de qualidade numa abordagem extremamente difícil: como mostrar a faceta humana de um mostro capaz de causar tamanha barbárie? A Queda consegue dizer que, ao mesmo tempo que Hitler era esse monstro, ele também era um ser humano comum, trazendo o anticristo para o nosso nível sem defendê-lo. Fora isso e a importância histórica do filme, A Queda ainda vale ser visto pelas cenas da Berlim destroçada e pela magnífica interpretação de Bruno Ganz no papel principal, que consegue numa sutil mudança no olhar causar medo e piedade no espectador.

Hitler - The Rise Of Evil e A Queda são extremamente importantes para o entendimento da história do século passado e, por que não dizer, para o entendimento do que vem acontecendo no mundo de hoje. Sempre que um mal-intencionado assume o poder, alguém sofre. A Guerra do Iraque não chega nem aos pés da Segunda Guerra em número de mortos, mas não deixa de ser uma das maiores atrocidades já vistas. Interesses puramente imperialistas causaram o conflito, só que hoje o sanguinário é aliado. A grande diferença é que hoje em dia a história é vista na tela da TV por todo o mundo e cada um pode escolher o lado certo. Quem dera que todos pudessem entender que o lado certo de uma guerra é o lado que não quer a mesma, pois num conflito desses, todos os lados envolvidos perdem. Parece que a humanidade ainda vai demorar para aprender isso.


Carlyle e Ganz na pele de Hitler

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