segunda-feira, março 26

BOBBY

Já faz tempo que concordo com tudo o que dizem sobre os irmãos John e Robert Kennedy. Cada um ao seu tempo simbolizou a esperança de um mundo melhor. Cada um deles, se não fossem violentamente assassinados, poderiam ter transformado o mundo que conhecemos hoje. Talvez a insana Guerra do Vietnã tivesse acabado mais cedo, antes de causar tantas mortes; talvez não vivessemos durante décadas uma aterrorizante guerra fria, mãe da corrida nuclear e do terrorismo atual; talvez, inclusive, não estaríamos sofrendo com o prejuízo ambiental do aquecimento global. Pela importância histórica desses dois políticos, o cinema não pôde se abster de mostrar suas histórias. O assassinato de JFK já foi tema de vários filmes e de, no mínimo, uma obra-prima: JFK, de Oliver Stone. Porém, até Bobby (Emilio Estevez, EUA, 2006), o irmão de John não tinha tido a homenagem que merecia.

E que homenagem! Emilio Estevez, pra quem não lembra, fazia parte da turma de atores revelados no início da década de 80 que tinha, entre outros, Tom Cruise, Patrick Swayze e seu irmão, Charlie Sheen. Filho do ator Martin Sheen - conhecido pelo seu papel em Apocalypse Now e pelo intenso engajamento político - Emilio estava sumido das telas nos últimos 10 anos. Seu retorno foi em grande estilo. Emilio entra para o time de atores/diretores que revisitam o passado para explicar o presente, tal como George Clooney em Boa Noite e Boa Sorte e Clint Eastwood em A Conquista da Honra. Bobby conta os últimos minutos de vida do senador americano asssassinado pouco antes de ser eleito presidente dos EUA sem se fixar na sua pessoa, mas sim, nos efeitos que a sua provável eleição causaria no cenário social conturbado dos EUA de 1968. Com um estilo narrativo inspirado em Nashville e Magnolia, já célebre no cinema atual (e que, por isso, já não serve mais como argumento para denegrir um filme), várias histórias mostram personagens enfrentando conflitos internos e problemas sociais, todos eles interligados pela esperança de mudança representada pela eleição de Bobby Kennedy. Deixando de lado alguns clichês, Estevez consegue criar uma atmosfera de otimismo em meio a conturbada situação social da época, mostrando todos os aspectos que caracterizavam aquele tempo: a luta pelos direitos civis dos negros, a oposição à Guerra do Vietnã, a situação de "novos negros" dos latinos, a alienação junkie dos hippies, a revolução comportamental que trouxe a tona a hipocrisia das relações conjugais. Robert Kennedy representava esse otimismo, e essa esperança acabou na bala do revólver do palestino Sirhan Bishara Sirhan.

Com um elenco mais do que estelar, que conta com Anthony Hopkins, Demi Moore, Sharon Stone, Lindsay Lohan, Elijah Wood, William H. Macy, Helen Hunt, Christian Slater, Heather Graham, Laurence Fishburne, Freddy Rodriguez, Nick Cannon, Emilio Estevez, Martin Sheen, Shia LaBeouf, Joshua Jackson, Joy Bryant, Svetlana Metkina, David Krumholtz, Harry Belafonte e Mary Elizabeth Winstead, entre outros, Bobby passou despercebido pelos festivais, ganhando algumas indicações para o Globo de Ouro mas totalmente ignorado pela Academia. O que não deixa de ser uma injustiça, por se tratar de um belo filme que merece ser visto pelo ótimo trabalho realizado pelo diretor, pela reunião inédita de tantos astros do cinema e, principalmente, pela importância histórica do fato que retrata.


Emilio Estevez dirigindo Sir Hopkins em "Bobby".

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