domingo, março 25

300



Há uns 3 anos atrás, quando um amigo me emprestou a graphic novel Os 300 de Esparta, de Frank Miller, confesso que não fiquei tão entusiasmado quanto ele ao falar do gibi. Lembro que achei os desenhos excelentes, mas a história fraquinha. Tá certo que tinha uma mensagem de honra e coragem intrínseca, mas a mesma era completamente clichê e previsível. Ao ver a adaptação dos quadrinhos para o cinema, a impressão continua a mesma. Porém, como na relação entre um storyboard e a cena filmada, 300 (Zack Snyder, EUA, 2006) dá vida à idéia original de Miller. O estilo do autor foi transposto fielmente para a tela, enriquecido com movimentos muito bem coreografados e fotografados. Estilísticamente, não dá pra se dizer que 300 não é menos que perfeito em todos os sentidos. O diretor Zack Snyder já tinha provado em Madrugada dos Mortos que é um exímio maestro das imagens, mas em 300 ele extrapola seus próprios limites, transformando cada fotograma em uma tela digna dos melhores pintores, adicionando nessa tela um balé de movimentos de tirar o chapéu. Claro que Frank Miller já tinha feito o trabalho original ao definir o estilo visual da história. Mas Snyder colocou um tempero que transformou esse filme numa iguaria inesquescível. Certamente, 300 virou desde já um paradigma visual do tamanho de Matrix, Gladiador e Senhor dos Anéis.

Mas meu entusiasmo para por aí. Um filme não merece entrar para a história do cinema - como muitos críticos entusiasmados estão dizendo - se não tiver um enredo que valha a pena. Como disse antes, 300 traz uma mensagem pífia de honra e coragem. Mas o que se vê além disso é apenas pau, sangue e gritaria. A lenda da batalha das Termópilas até hoje é lembrada como uma das melhores táticas de guerra já executadas na história dos combates. Só que essa batalha foi protagonizada pelos soldados espartanos, guerreiros treinados para não sentir dó do inimigo e cuja maior glória era morrer na ponta de uma lança. Emoções, portanto, estavam excluídas da equação. É aí que mora o pecado de 300. O símbolo da filosofia espartana, o Rei Leônidas (numa marcante interpretação de Gerard Butler, justiça seja feita), não é nada mais que um caudilho que não pensa nas conseqüências de seus atos. Leônidas, criado desde criança pelo código espartano "não se render, não recuar", perde a noção do perigo e o timing da batalha, deixando de lado a possibilidade de conquistar um objetivo maior. Em resumo, se Leônidas fosse um técnico de futebol, seu time sempre perderia de 11 a 6. Tamanha insensatez impede que o espectador sinta a empatia necessária pelo protagonista.



Por isso, 300 deixa de ser um filme nota 10. Muito provavelmente vai ganhar todos os prêmios do MTV Movie Awards desse ano devido ao seu visual estonteante (dependendo, é claro, de como for Spiderman 3, que estréia em maio). Mas as vezes a imagem não é tudo. Em Madrugada dos Mortos, Zack Snyder tinha modernizado o clássico de 1979 de George Romero, tanto no visual, quanto no roteiro. No entanto, em 300 o diretor deixou de lado seu lado autoral para se dedicar exclusivamente ao de esteta. Tomara que em seu próximo projeto - mais uma adaptação de quadrinhos: Watchmen, de Alan Moore - Snyder volte a dar pitaco na história original. Talento ele tem de sobra.

Ah, sim: o Rodrigo Santoro está no filme. E ele fala, dessa vez. Apesar de não ser a sua voz...


"Ah, que saudades do Brasil. Ao menos lá eu pego a Ellen Jabour. Aqui, tenho que encarar o Osama Bin Laden."

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