sábado, fevereiro 5

O BREGA AGORA É CHIQUE

Uma vez eu ouvi alguém dizer que os homens, ao contrário das mulheres que variam o gosto de acordo com a moda - generalizando, é claro, porque nem todas sofrem de falta de personalidade, graças á Deus - nunca deixam de gostar das músicas que um dia gostaram. Isso talvez explique o fato de eu escutar Iron Maiden e New Order com o mesmo entusiasmo de quando eu tinha 13 anos de idade (sim, eu sempre fui eclético ao ponto de escutar heavy metal e europop ao mesmo tempo). Quando eu comecei a me interessar por música, lá pelo meio da década de 80, o grande veículo para as bandas do engatinhante rock nacional era o Cassino do Chacrinha, talvez o melhor programa de auditório que já se teve notícia. Bandas como RPM, Ira!, Plebe Rude, Capital Inicial e Ultraje a Rigor foram apresentadas ao grande público pelo microfone do inimitável Abelardo Barbosa. Porém, junto com o mais autêntico rock nacional, o programa também era palco para os outros grandes sucessos radiofônicos da época. Biafra, Gilliard, Silvinho, Sidney Magal, Gretchen... Como que por osmose auditiva aquelas melodias derivadas do romantismo inocente da Jovem Guarda - que por sinal foi o movimento roqueiro mais importante no Brasil até então - perpetradas por aqueles intérpretes ficaram guardadas na mente de quem viveu aquela época.

Hoje, depois de muitos anos e sofrendo da natural nostalgia dos trintões, eu lembro daquela época com carinho. Lembro da minha doméstica, Maria, que lavava a louça de depois do almoço cantando entusiasmada Não Se Vá, de Jane e Herondi - sim, aquela mesmo que você adora cantar no videokê - e Amor Perfeito, do mestre Amado Batista, e de como eu ria ouvindo A Velha Debaixo da Cama, de Geraldo Nunes e Procurando Tu, do Genival Lacerda. Isso sem contar nas inúmeras "homenagens" prestadas à inesquecível Rainha do Bumbum, Gretchen. Na época, estávamos tão familiarizados com essas músicas tanto quanto a juventude de hoje está com os sertanejos, pagodes e funks que assolam a rádio e a TV. Mesmo não gostando (ou falando pros amigos que não), acabamos por assimilar essas melodias e demonstramos nosso conhecimento em festinhas, em momentos de descontração, com a desculpa da bebida e da falta de vergonha momentânea que elas nos causa. Tudo isso em nome de um "bom gosto" que ás vezes temos que demonstrar perante aos que nos cobram uma certa conduta cultural.

Só que ultimamente o "mau gosto", que sempre rotulou esses artistas classificando-os como bregas, virou a mesa. Os intelectualóides e o populacho que os seguem resolveram alçar o brega à categoria dos estilos "bacanas". Por exemplo, a melhor festa de Porto Alegre, a Balonê, tem sempre um momento brega, onde clássicos como "O Amor e o Poder" (...como uma deuuuussaaaaaa...) são cantados em uníssono por centenas de pessoas. Inclusive houve uma edição da festa que teve a participação da diva Rosana, que levou os novos fãs, os mesmos que choram de emoção ao ouvir as lamúrias indies do Los Hermanos, ao delírio. O show de Sidney Magal na última edição do Planeta Atlântida também foi um bom exemplo do renascimento do brega entre os "descolados". Mais de mil pessoas se acotovelavam para ver o "amante latino" desfilar seus hits no melhor estilo Chacrinha: na base do playback!!! Isso enquanto rolava o show d`O Rappa no palco principal.

Tudo isso só pra dizer que agora eu me sinto tranquilo pra dizer que EU SEMPRE GOSTEI DE BREGA, assim como eu sempre gostei de funk carioca e de samba rock, desde muito antes de tudo isso virar modinha. Sim, eu escuto Magal tanto quanto escuto Flaming Lips. A diferença é que agora eu sou chique! Você não concorda comigo? Então deixa o Caetano fazer uma versão de alguma música brega. Aliás, ele já fez... agora, que faço eu da vida sem você, lembra?

Sim, é a Gretchen!
Eu e a musa da minha pré-adolescência. Um sonho que se tornou realidade.

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