terça-feira, dezembro 28

...TSUNAMI, TSUNAMI CAME WASHING OVER ME... (Manic Street Preachers)

Uma das coisas mais impressionantes que eu já vi na minha vida. O maremoto que varreu o litoral de vários países da Ásia é mais uma prova de que a natureza ainda é imprevisível e invencível. Até o exato momento, já foram registradas 100.000 mortes, mais do que a guerra do Iraque, por exemplo. O pior é que muitos especialistas ainda afirmam que outra onda dessas, ainda maior, está por vir a qualquer momento, atingindo até mesmo o litoral brasileiro. Nessas horas é bom todos nós nos lembrarmos de pedir a Deus que nos poupe de outra tragédia destas.

Vejam o relato de um navegador brasileiro que testemunhou o tsunami, publicado no Globo:


PHUKET (Tailândia) - João Sombra é um brasileiro que está há nove anos navegando ao redor do mundo. No domingo ele estava em Phuket, na Tailândia, quando a cidade foi atingida pela série de ondas gigantes criadas após um terremoto no fundo mar. Sombra mandou com exclusividade para o 'Globo Online' o relato a seguir:

"Estimados amigos do GLOBO ONLINE, estamos apresentando a vocês um depoimento do que vimos e sentimos nos últimos e trágicos acidentes naturais acontecidos no sudeste asiático, com a grande onda Tsunami.

Há cerca de 9 anos estamos com nosso veleiro Guardian fazendo a volta ao Mundo, cerca de quatro anos no Oceano Pacifico e os quase últimos cinco no Oriente. No eixo Malásia /Tailândia, sua costa leste e oeste, já estamos há mais de três anos.

No momento, nos encontramos com o Guardian no seco, no estaleiro Ratanachai, na cidade de Phuket, preparando-o para zarparmos no início de janeiro rumo ao Mar Vermelho e, em meados de maio, adentrarmos o Mar Mediterrâneo.

Feitas as devidas apresentações, vamos ao trágico momento em que a costa sudeste da Ásia recebeu um dos mais terríveis momentos do mar, quando uma onda gigante conhecida com TSUNAMI, devastou o local desde o sul da Malásia, passando pela Tailândia, Myamar, Golfo de Bengala, Ilhas Maldivias, Sri Lanka, e Índia, algo por nós jamais visto ou imaginado ver.

O Natal transcorrera de forma tranqüila, na véspera fomos convidados a um casamento tailandês de um carpinteiro que trabalha no estaleiro. Lá estivemos com a alegria típica dos brasileiros, levando uns discos de samba que todos adoraram.

Por volta das 23h noite retornamos a nosso "amigão", como chamamos oGuardian. Dia seguinte 25 de dezembro, aquela tradicional sentada na internet para receber e retribuir as centenas de mensagens dos super irmãos do Brasil e outros que vivem no exterior e acompanham nossa viagem. Dia tranqüilo, porém com muita pressão no ar. Já se foram mais de 15 dias sem uma gota sequer de chuva, e em tempo de lua grande, a dama prateada em seu plenilúnio, isto sempre preocupa. Mormente em regiões cerca do Equador, onde sua influência sobre a terra se faz mais acentuada. Fatos que aqueles que vivem no mar conhecem bem.

A pressão do ar mais tensa. O barômetro não dizendo nada, mudo!!!!!! Mas , não passaram desapercebidas as muitas formigas saindo da toca. E comentamos com nosso filho Atila:

-Filho, vamos fechar as vigias porque vai vir chuva esta noite.

Mal começamos a dormir e a chuva começa a cair. Nada de chuvas fortes. Fraca, porém constante. Como sabemos que nesta região as chuvas nesta época do ano não são copiosas e sim tranqüilas, por volta das 2h já havia passado e a Dama Prateada , exuberante mandava no céu da noite .

Pela manhã ao acordarmos, fizemos as orações de praxe, agradecendo aoCapitão Lá de Cima a sempre presente proteção. Não tínhamos a mínima idéia do que estava por vir.

Ás 7h, o Guardian começou a tremer em sua carreta no seco. Sentimos durante uns 20 minutos todo aquele tremor e reparamos que era em todos os locais do estaleiro. Nós que em San Diego, quando visitávamos nossos filhos que lá estudam, presenciamos um terremoto, de imediato o identificamos, e comentamos, com os demais velejadores do estaleiro.

- Gente, isto foi um terremoto e dos grandes, demorou muito tempo!!!!!!!!

Fomos para o escritório do estaleiro, vazio no domingo, fazer nossa internet.

Por volta das 10 horas o pessoal começa a entrar apavorado:

-Joao ( sem til, como nos chamam por estes lados) todos urgentes para o 3º andar que esta vindo a onda gigante.

Lá chegamos e pela janela começamos a ver algo que se contássemos de forma isolada do contexto, passaríamos por mentiroso e daqueles. A grande baía de acesso ao estaleiro, começou a secar de forma espantosa, os peixes pulavam no seco, a impressão que tínhamos era que o mar se esgotara dos tratos recebidos pelo homem e resolvera não existir mais.Este processo durou cerca de uns 20 minutos se tanto e de repente no horizonte algo começou a crescer. Uma grande onda principiava a se formar.Era inacreditável, algo monstruoso, parecia filme de ficção!!!!

E vinha crescendo, agigantando, ainda que de longe , cerca de uns mil metros, face a nossa experiência de mar, sabíamos ser muito grande.

Não acreditávamos no que nossos olhos passavam a nossa mente, impossível estar acontecendo isto!!!!!!!!! E a onda gigante vinha, e começou a entrar em tudo e a arrasar com tudo. Nós um pouco mais tranqüilos, pois estávamos uns quatro metros acima de um patamar de entrada ao estaleiro. Na verdade estávamos há uns seis metros do nível do mar. Porém, pudemos ver a água invadindo e alcançar as rodas da carreta onde o Guardian se encontrava.

O pior acontecia no canal de acesso ao estaleiro, onde se localiza um porto pesqueiro. Barcos eram jogados contra casas, contra outros e o caos era terrível. Penávamos de inicio quando notamos que a grande onda não se tratava de apenas uma. Na verdade era uma série delas, que vão aumentando de tamanho e força, e a última , que os surfistas conhecem como a "Rainha", tinha uns 10 metros e um volume de água incrível.A tragédia estava escrita no sudeste asiático, em Phuket, os locais mais perto do mar e turísticos, como a Baia de Ao Chalong, as praias de Nai Ham, Kata e Pattong se encontravam arrasadas. Motos por cima de carros. Estes dentro de restaurantes e hotéis e aquela confusão generalizada. Porém, ainda não tínhamos a menor dimensão da tragédia

Acabada a série e o mar voltando a sua normalidade , partimos para fazer algumas imagens dos locais cerca a estaleiro. Foi quando começamos a tomar conhecimento do pânico e terror instalados.

Pessoas gritavam de forma alucinada, crianças choravam, outras sumiram levadas pela água em seu refluxo, sim, pois a mesma força que entra, na saída vai levando tudo. O pânico era constante e a marca do terror estampada em cada olhar, em cada expressão. Alguns abobalhados, outros como se em transe. Uma imagem que jamais será esquecida, a impressão que se tinha era que uma grande bomba acabara de ser detonada no local.

Como o idioma tailandês é totalmente diferenciado, tanto na fala como na escrita, ficava difícil entender os grito e berros das pessoas. Com alguns trabalhadores do estaleiro, tentamos ajudar os mais necessitados. O carro dos bombeiros passava com seus alto falantes, conclamando todos a abandonarem o local o mais rápido possível, pois outra série de grande ondas viria. Aí mesmo que a confusão se instalou definitivamente.

Às 12h, já em cima do Guardian, víamos a outra seqüência de ondas chegar. Esta em menor intensidade. O processo teria seu final somente às 14h, quando a ultima seqüência de ondas passou.

Como em Phuket não há emissora de TV, somente uma retransmissora - todos os canais se encontram baseados em Bangkok - só hoje pela manhã, dia 27, é que as primeiras imagens da tragédia eram levadas ao conhecimento de todo o mundo.

A nossa caixa de entrada de mails explodiu. Parentes, amigos e todos aqueles que acompanham nossa viagem, sabendo que nos encontrávamos em Phuket, passaram a querer informações de nossa situação. Todos naquela apreensão terrível.

Conosco, graças ao Capitão Lá de Cima, tudo perfeito, mas com a mente ainda abalada pelas cenas de terror que assistimos. Todos que nos conhecem sabem que não somos afetos ao terrorismo náutico, até mesmo ao contrário, somos do tipo bem light, mas desta vez a coisa foi realmente tenebrosa."


Aqui você vê mais relatos de testemunhas e aqui algumas imagens impressionantes da tragédia.

(links cortesia do Ueba)

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