PAU DE DAR EM DOIDO
Quando eu tinha meus sete, oito anos de idade, minha mãe foi diretora de uma escola de vila. E não era uma vila bacana, era um puta vilão, cheia de barracos onde dez pessoas se amontoavam em um minúsculo cômodo sem assoalho. Gente pobre mesmo! Eu sempre ia jogar bola na quadra do colégio. Uma vez, um menino quis roubar minha bola, no que foi prontamente impedido pelo maior marginal do colégio - o Osório, um cara com uma baita ficha criminal com apenas 15 anos e que morreu num tiroteio contra a polícia antes de completar 20 anos. Eu me lembro até hoje dele falando pro menino: "por que tu vai roubar a bola do filho da diretora se ela é sempre tão legal com a gente"? Quer dizer, até em um ambiente onde as pessoas não tem nenhuma cultura, a não ser a sobrevivência, existe uma certa ética nas relações pessoais. Por que alguém iria fazer mal à outra pessoa de graça, sem ter sido provocado antes? Respondo: por ignorância, por arrogância, por insegurança, por inveja, por frustrações pessoais e por maldade, pura e simples.
Hoje foi um dia estranho para mim, um declarado fã do Orkut. Até então, ele era uma ferramenta genial para se encontrar e fazer amigos. Suas comunidades eram ambientes sadios, onde todos participavam de uma forma espontânea e educada das discussões e das brincadeiras. Só que desde hoje, em várias das comunidades que eu participo, estão acontecendo discussões de extrema hostilidade, com ofensas pessoais e baixaria gratuita que nem mesmo eu, na época em que eu convivi entre os barracos daquela vila, vi igual. Se levarmos em conta que a internet ainda é uma mídia cara para a maioria das pessoas e que os privilegiados que tem acesso à ela são aqueles de maior poder aquisitivo e - pela lógica, não pela prática - maior cultura, o problema é bem maior do que imaginamos. Pessoas que se julgam cultas baixando o nível, estragando um ambiente até então agradável e divertido, mostrando que certos valores como a boa educação e a classe estão se perdendo com o tempo, escondidos atrás de uma pseudo-rebeldia "de boutique".
Eu nunca fui rico, mas também nunca fui pobre. Classe média, talvez. Estudei em um bom colégio. Pude adquirir cultura sem problemas. Mas nada disso é mais importante do que os valores que meus pais me passaram. Dentre eles está certamente o ensinamento de não agredir ninguém gratuitamente. Só que além disso, eles também me ensinaram a revidar quando necessário. Em outras palavras, eu dou um boi pra não entrar em briga, e uma boiada para não sair. Quando agredido eu sei revidar, não mando recado. Gosto de discutir e sou bom nisso. E uma ofensa a um amigo é uma ofensa a mim. Minha postura é a mesma como se fosse comigo a briga. Geralmente eu coloco panos quentes, tento resolver as coisas na conversa. Meu limite é bem amplo, não é qualquer coisa idiota que me atinge. Mas ele existe, e quando estoura, sai da frente. Eu viro bicho!
Portanto, fica o recado para alguns OTÁRIOS que se julgam grande coisa nessa MERDA de cidade pequena: eu sou o melhor amigo que se pode ter, mas também sou o PIOR inimigo. Se vocês quiserem manter a imagem de chiques, bacanas, descolados e o raio que o parta, por mim tudo bem (eu prometo não rir da cara de vocês em público). Mas não mexam comigo nem com meus amigos, porque senão a casa cai. E depois que ela cai, não há quem levante. Então, pensem bem antes de sair distribuíndo comentários maldosos sobre as pessoas. Se não tem nada para falar, cale-se. É bom para o espírito e preserva os dentes.
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