quarta-feira, abril 28

O PAPA É POP

Nunca fui um grande fã de Quentin Tarantino. Quer dizer, eu gosto muito de seus filmes, mas não concordo com o culto que fazem de seu talento. Ele é apenas um grande reciclador de tudo de trash que o cinema já fez. Mas tenho que concordar que o cara é o rei do pop, justamente por isso. Tarantino transforma em produto pop tudo aquilo que todos nós gostamos mas temos vergonha de contar para os outros. A impressão que dá é que se ele dirigir um filme da Xuxa, vai fazer com que a "rainha dos baixinhos" vire musa cult. Já fez isso com os seriados policiais da década de 70 em Cães de Aluguel, com a cultura underground americana em Pulp Fiction, com os filmes blaxploitation em Jackie Brown e agora com os filmes de kung-fu em Kill Bill.

Não preciso falar sobre o que se trata o filme, graças à demora para o seu lançamento no Brasil, que fez com que muitos fãs do diretor já tivessem baixado o filme na internet. Mas como a história é mais do que simples, vamos lá: uma assassina de aluguel (Uma Thurman) é espancada até quase a morte no dia de seu casamento e volta depois de quatro anos em coma jurando vingança contra suas ex-parceiras de equipe - as Deadly Viper Assassination Squad - e seu antigo chefe, Bill. E é só! A verborragia presente nos filmes anteriores de Tarantino dá lugar a mais pura ação. Mas como eu disse antes, a ação de Tarantino é muito mais pop do que as outras já vistas. A salada de referências já começa praticamente antes do filme começar, nos créditos, e seguem por todos os frames seguintes. Mesmo dando ênfase às cenas de ação, Tarantino ainda nos dá pérolas de humor nos poucos diálogos - vide a sequência de "auto-fisioterapia" d'A Noiva quando ela acorda do coma. E visualmente o filme é perfeito. Já dá pra ver que estamos diante de mais uma fonte de referências visuais, como foi Matrix alguns anos atrás. Daqui a pouco vamos começar a ver alguns filmes que vão copiar os jorros de sangue em preto-e-branco de Kill Bill. E a trilha é um caso à parte, como em todos os outros filmes do diretor. A sequência em que A Noiva luta com os capangas de O-Ren Ishii (Lucy Liu) é uma das maiores combinações de imagem e som já vistas no cinema.

A bem da verdade, o filme não chega a ser uma obra-prima, mas com certeza vai ser um dos filmes mais cult do cinema daqui pra frente. Agora é esperar a segunda parte do filme que estreará provavelmente no Brasil em outubro. Aliás, a competência de Tarantino pode ser vista até no próprio momento do corte entre as duas partes. A última fala do filme cria uma expectativa enorme para a segunda parte. E a promessa é que o fim da saga d'A Noiva seja muito mais divertida e interessante do que a primeira parte. Se for assim podemos dizer antecipadamente que estaremos diante de uma obra-prima pop.

Uma Thurman em Kill Bill
O bicho pega em Kill Bill

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