Como eu não falei nada sobre o aniversário de Porto Alegrei na sexta-feira, vou aproveitar a deixa para também homenagear um músico que é a mais perfeita expressão do espírito portoalegrense. Para os gaúchos, ele já é mais que um ídolo, Nei Lisboa é o nosso Bob Dylan! Mesmo sem ser muito conhecido no resto do Brasil, Nei tem uma grande importância histórica no cenário musical gaúcho. Nei surgiu para a música no final da década de 70, com o espetáculo "Deu Pra Ti, Anos 70". Em 1983 lançou o disco independente Pra Viajar no Cosmos Não Precisa Gasolina, cuja música título foi eleita a música mais importante do rock gaúcho segundo os leitores do jornal Zero Hora. Em 1988, Nei lançou o seu melhor disco, Hein?!, que foi marcado por uma tragédia pessoal na vida do cantor, mas que trouxe clássicos como Faxineira, Telhados em Paris e Fábula. Nessa época, Nei teve a oportunidade de ser lançado nacionalmente com a proposta de ter uma música na trilha da novela Top Model, da Globo, mas declinou. Kiko Zambianchi acabou aproveitando a oportunidade, mas sua regravação de Hey Jude, dos Beatles, mesmo tendo algum sucesso, acabou por jogá-lo ao limbo. Há males que vem pra bem...
Depois de Amém (1993), Nei deixou a música de lado para se dedicar ao birô de editoração eletrônica de sua propriedade. Mas, para a alegria dos fãs, Nei voltou em 1998 com o espetáculo Hi-Fi, onde fazia várias covers de clássicos do rock em versões voz/violão. O espetáculo virou disco e marcou a retomada de sua carreira musical. Em 2002, várias bandas do cenário do rock gaúcho se reuniram no tributo Baladas do Bom Fim, onde artistas como Tom Bloch, Groove James, Frank Jorge e Da Guedes revisitaram sucessos da carreira do cantor.
Pessoalmente, Nei Lisboa é um dos meus maiores ídolos. Suas letras beiram a perfeição, e sua voz marcante fazem com que seja uma injustiça o resto do Brasil não conhecer a sua obra. Enquanto isso, proliferam-se os Zeca Baleiros e Jorge Vercilos da vida... Dê uma olhada em duas letras - na minha opinião, suas melhores letras - e veja se eu não tenho razão de idolatrar o cara:
RIMA RICA / FRASE FEITA Desculpe, meu bem Se ontem te fiz chorar Mas a vida é assim mesmo Não se pode exigir Pouco dá pra esperar Muito obrigado por tudo Pelo teu suor, pelos teus gemidos E espero que a minha estupidez Cicatrize teus sentimentos feridos Nasci e morro assim, só Perdido no escuro, dentro de mim E vou cruzando o barro Vou comendo pó Até que chegue o fim Mas a força eu retiro Sugo feito vampiro De saber que as estrelas Também vivem sós De um cigarro amassado De uma rua deserta De outros que até eu posso sentir dó Da menina de olhos grandes como a lua De uma noite sentindo tua carne crua E dos bares, das festas Dos vinhos, serestas Das mentes infestas de podres horrores De mil desamores Do chope das quatro Desse louco mundo putrefato Dessa grande peça de teatro | ROMANCE Todas as bobagens que eu já disse Dariam pra encher um caminhão Mesmo assim encontro no caminho Milhares mais otários do que eu Por isso meu amor Não leve tão a sério Nem o que eu digo Nem o que eu deixo de esconder Não vai ter graça o dia Em que eu bater a porta E você não abrir pra responder Todas as pessoas que eu conheço Cabem bem juntinhas na palma da mão Pra você guardei um universo Quando falta espaço, eu faço um verso E durmo na canção Por isso meu amor Não pense que é brinquedo Eu tenho medo e morro de paixão Não vai ter graça o dia Em que eu abrir a porta E a tua mão vazia disser não Todas as bobagens que eu já disse Dariam pra encher um caminhão Pra você guardei um universo Quando falta um verso, peço teu perdão Por isso meu amor Não leve tão a sério Se eu morro de medo, brinco de paixão Não vai ter graça o dia Em que eu te vir na porta E não souber se entro ou faço uma canção |
Nenhum comentário:
Postar um comentário