Enquanto isso, Brasília continua a nos fazer de bobos. Não, não estou falando de todas essas denúncias recentes de corrupção. Estou falando do trabalho do Congresso Nacional, que continua, porém, sem a atenção da mídia. Um dos assuntos mais importantes que estão sendo debatidos neste momento é a mudança das regras políticas à partir da próxima eleição. De acordo com o projeto de lei que está sendo discutido no Congresso, um dos pontos principais é a redução do custo das campanhas políticas para diminuir o risco de "caixas 2". A proposta, de autoria do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), proíbe a realização de comícios com artistas e músicos, limita os programas de TV e rádio à fala dos candidatos, sem produção ou cenas externas, e veta a distribuição de brindes, entre outras medidas.
Essa proposta leva a uma discussão profunda, além da demagogia rasa inerente à ela. Nos últimos pleitos, a campanha política de TV se tornou um grande show de imagens, com produções ditas caríssimas, cujas contas se tornaram um filé no mundo publicitário - só pra constar, o motivo de Marcos Valério ser avalista de empréstimos milionários ao PT, segundo Delúbio Soares, era para ter a conta das campanhas eleitorais do partido. Por isso, e só por isso, pode parecer que está aí a principal via de corrupção eleitoral. Mas a verdade não é essa.
Coibir efeitos especiais, limitando os programas ao candidato no estúdio e proibindo cenas externas é apenas uma forma burra de moralizar e baratear as campanhas políticas. Ora, os programas políticos já são considerados, pela maioria da população, chatos. Imaginem se eles se resumirem a apenas longos e morosos discursos de candidatos. Para um povo acostumado a ver novelas e filmes de Hollywood, e pouco motivado a se informar sobre o processo eleitoral, é mais que motivo para afastar ainda mais o povo de um aspecto tão importante das nossas vidas como cidadãos. Se o povo quer "pão e circo", que o tenha. Ao menos chama a atenção.
Quanto maior a dificuldade de quantização dos materiais de campanha, maior a chance de ocorrer lavagem de dinheiro. Valores podem ser inventados para fechar caixas escusos. No caso da produção dos programas de TV, é bem mais difícil. O produto está ali, para todo mundo ver e contar, se preciso. Os valores cobrados são proporcionais à quantidade de trabalho e ao risco de inadimplência dos partidos - alguns partidos são célebres devedores de campanha. Os profissionais envolvidos, na maioria das vezes, cobram cachês similares. E, por fim, com a tecnologia de hoje, com equipamentos baratos podem ser feitos efeitos especiais de alto nível. O único diferencial, entre uma campanha e outra, é apenas o talento e a competência dos profissionais envolvidos. O dinheiro conta pouco, nesse caso. Geralmente, os profissionais envolvidos em produção e criação de video, já estão acostumados a tirar "leite de pedra" com pouca verba. Mas se ainda assim, a criação tiver limites, fica mais difícil.
A reforma política que o Brasil precisa não é essa. O povo, mesmo com 20 anos de democracia, ainda não aprendeu a votar. Ainda não aprendeu que votar no candidato a presidente de um partido e no deputado de outro só traz problemas como mensalões, onde o Poder Executivo se vê pressionado a pagar o voto de deputados de aluguel para poder aprovar suas medidas de governo. Voto em lista, fidelidade partidária e transparência no financiamento são muito mais importantes do que limitar as cores dos programas. Tirar o povo da frente da TV não é a maneira correta de melhorar nossa democracia, pelo contrário. Os programas de TV, do jeito que estão, mobilizam a população e inserem até aqueles mais céticos no processo eleitoral. Tirar o pouco de emoção dos programas eleitorais é a mesma coisa que colocar apenas pernas-de-pau a jogar e achar que, mesmo assim, os estádios de futebol continuarão cheios.
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