terça-feira, junho 22

CAZUZA - O TEMPO NÃO PÁRA

Vendo Cazuza - O Tempo Não Pára (Sandra Werneck, Brasil, 2004) temos a nítida impressão de que ainda existe um abismo qualitativo entre o cinema feito no Brasil e o cinema americano. Biografias quase sempre rendem ótimos filmes. Milos Forman, por exemplo, é um mestre no assunto, transformando a vida de Andy Kaufmann e de Larry Flint em filmes geniais - O Mundo de Andy e O Povo Contra Larry Flint, respectivamente. Cazuza pode ser considerado, pelo seu estilo de vida desregrado e sem limites, um Jim Morrisson brasileiro, mas o filme feito em sua homenagem não tem nem comparação com a cinebiografia do vocalista do The Doors feita pelo mestre Oliver Stone. Na verdade não é nem a proposta da diretora Sandra Werneck - que até então tinha feito apenas duas comédias românticas bem interessantes, Pequeno Dicionário Amoroso e Amores Possíveis - mesmo assim, pela semelhança dos personagens, a comparação é inevitável.

Se formos analisar pelo ponto de vista emocional, o filme agrada, mais pelo fato de que Cazuza é um ídolo de toda uma geração e as imagens do cantor na época do Barão Vermelho e em carreira solo - já sofrendo os problemas da AIDS - ainda estão vivas na memória de muita gente. Mas tecnicamente o filme é sofrível. Não existe roteiro, essa é a grande verdade. Personagens importantes na vida de Cazuza foram simplesmente ignorados (como Ney Matogrosso, por exemplo, um dos namorados de Cazuza e o grande responsável pelo aparecimento do Barão Vermelho) ou mal descritos (não são todas as pessoas que sabem que Bebel Gilberto foi a parceira de Cazuza na composição de Preciso Dizer que te Amo e que o pai do cantor, João Araújo, era o manda-chuva da Som Livre, gravadora que lançou o Barão Vermelho). Além disso, um dos grandes momentos da carreira do cantor, o show do Barão no Rock In Rio, foi mostrado de uma maneira que não pode ser descrita de outra maneira que TOSCA. Faltou um pouquinho mais de talento pra diretora usar a tecnologia disponível pra recriar o momento, e não simplesmente usar imagens de TV numa edição nada convincente. O ritmo do filme oscila em vários momentos, principalmente quando mostra os momentos finais da vida do cantor, onde a diretora deixa de lado o caráter documental usado até o momento no filme pra ingressar numa sequência de imagens feita com o claro objetivo de fazer a platéia se debulhar em lágrimas - o que, definitivamente, não acontece.

Ainda assim, o filme vale ser visto. Principalmente pela excelente atuação de Daniel de Oliveira no papel do cantor. Num trabalho de caracterização genial, ele chega a deixar a platéia em dúvida se não é o próprio Cazuza em algumas cenas, principalmente nos momentos finais do filme, onde Cazuza já estava debilitado pela AIDS. Até nas cenas onde ele tem que cantar, Daniel surpreende. Os diretores brasileiros ainda tem um longo caminho pra trilhar, mas os atores brasileiros não devem mais nada para os atores estrangeiros. Se Cazuza fosse um filme um pouquinho melhor, poderíamos até pensar numa indicação de Daniel para um Oscar de Melhor Ator, mas como não é o caso...

Daniel de Oliveira
Daniel de Oliveira, perfeito no papel de Cazuza

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