quinta-feira, junho 3

AS AMIGAS DE AJURICABA

Para quem viveu em Ijuí lá por 93, 94, Ajuricaba ficou marcada como sendo a cidade que mais se assemelhava ao paraíso na Terra. Tá, muita gente nunca ouviu falar em Ajuricaba, então vamos contextualizar para deixar todo mundo a par do que se trata o post. Ijuí não é uma cidade grande, mas é bem conhecida. De lá saiu, por exemplo, o capitão da seleção brasileira campeã da copa de 1994, Dunga. Também temos a célebre água mineral Fonte Ijuí e uma das melhores - mas não reconhecidas - universidades do interior do estado, a UNIJUÍ. Mesmo sendo frequentemente confundida com a cidade-limite do Brasil, Chuí, Ijuí ainda tem uma certa notoriedade. Ajuricaba, por sua vez, é um antigo distrito de Ijuí emancipado na década de 70 (eu acho, mas também não tem nenhuma importância) e que cresceu muito pouco desde então. Ou seja, Ijuí está para Ajuricaba assim como Novo Hamburgo está para Estância Velha, por exemplo.

Feitas as devidas apresentações, vamos ao assunto principal. Quem viveu numa cidade do interior sabe como é difícil competir com os "caras de fora". Aqueles caras que, não satisfeitos com as opções de lazer de sua cidade, viajam para as cidades vizinhas em busca de melhores oportunidades de conquista. Eles contam com a boa receptividade das garotas dessas cidades vizinhas, cansadas das mesmas opções masculinas que, pelo tamanho da cidade e pela falta de lugares para ir, estão sempre disponíveis sem nenhuma variação. Ou seja, os "caras de fora" sempre são um fantasma na vida amorosa dos "caras locais" simplesmente pelo fato de serem novidade. Numa cidade como Ijuí, os piores fantasmas eram os "caras de Porto Alegre", os primos, amigos ou até os locais que foram estudar na capital e já não aparecem com a mesma frequência. Mas numa cidade como Ajuricaba, os "caras de Ijuí" são mais do que suficiente para causar alvoroço nas meninas.

Cansados das mesmas meninas e em busca de novas aventuras, os "caras de Ijuí" debandavam todo domingo de noite para Ajuricaba nas célebres festas do Clube 29 de Maio. É aí que Ajuricaba começa a ser o tal "paraíso na Terra" citado no início do post. Era muito fácil, sendo um "cara de Ijuí", pegar mulher nas festas do 29 de Maio. Não necessitava muito esforço. Na maioria das vezes, era só ficar parado perto do bar ou estratégicamente colocado no lado da pista de dança que sempre chegava alguma menina dizendo: "minha amiga quer te conhecer". Depois disso era só escolher qual das amigas seria o par da noite. E as opções eram variadas e de grande qualidade. As garotas de Ajuricaba tinham um charme bucólico nas suas roupinhas de costureira e seus cabelos lisos e sem corte. Mesmo com essa falta de elegância, elas eram, na sua grande maioria, lindas, coisa comum em uma cidade do interior gaúcho (Por exemplo, Horizontina não é uma cidade muito maior que Ajuricaba, mesmo assim deu ao mundo Gisele Bündchen. Entendeu?). Essa combinação de fatores fez com que Ajuricaba ficasse sempre viva na memória dos homens ijuienses entre 25 e 35 anos.

E agora, com o advento da tecnologia e da internet, as "amigas de Ajuricaba" foram relegadas a um passado distante. Elas são quase como aqueles operários que foram substituídos por robôs na indústria. Hoje existem "cyber-amigos" que fazem esse serviço, com muito mais propriedade e competência...

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